sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Perfil


Perfil


Eu não tinha esse semblante
Assim triste. Melancólico.
Saudoso.

A minha vida transcorria
Serena e calma
Como o entardecer no campo.

Eu não tinha esse jeito agressivo.
Esses rompantes.
Essa rebeldia.

Acho que a vida está me deixando assim:
Como um mar bravio
Em noite de tempestade.

Em que estrada sinuosa
Da vida se perdeu
Meu outro eu?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A procura


A PROCURA




E
ra fevereiro, mais ou menos duas horas da tarde. O sol estava alto no céu e o calor da cidade naqueles dias estava insuportável. Precisando respirar um pouco, o porteiro do prédio desceu de sua guarita e ficou olhando a rua que se estendia muito longa como um tapete fervilhando ao sol. Neste momento, ele reparara em duas mocinhas que caminhavam a passos lentos como se estivessem assustadas. Seus trajes eram simples e a maneira de andar olhando para os lados e para cima como a admirar os enormes arranha-céus, denunciavam que não eram meninas acostumadas à cidade grande.
O porteiro tinha razão.
Fazia pouco tempo que elas moravam naquela cidade. Haviam chegado do interior no começo do ano. O porteiro não sabia, mas naquela tarde, as meninas receberam ordens da mãe de procurar escola para si e para todos os outros irmãos. A família era enorme e a mãe muito ocupada com os afazeres da casa não tinha tempo para este tipo de atividade. Como já eram moçinhas, a mãe as incubiu desta tarefa.
O calor era intenso. Elas já haviam andado em todo o bairro e não encontraram nenhuma escola. Do seu posto de observação, o porteiro percebia que elas se sentiam inseguras, caminhavam lentas e apreensivas como se tudo aquilo que vissem fosse realmente novo para elas.
Naquele dia já haviam percorrido várias ruas do bairro à procura de escola. Estavam novamente caminhando mais uma vez pelos arredores quando de repente, pararam em frente a um grande portão e avistaram um enorme pátio cheio de grandes árvores que naquele dia quente e abafado não conseguiam nem balançar suas enormes folhagens. Avistaram também neste pátio alguns brinquedos como escorrego, carrossel, balanços de madeira e outras coisas mais que sempre existem nas escolas. Isto as alegrou enormemente, pois já estavam bastante cansadas. Imediatamente os seus rostos antes apreensivos tornaram-se mais animados, pois finalmente parecia que alcançariam seu objetivo.
O homem do prédio percebeu que imediatamente elas tentaram abrir o portão já bastante velho e um pouco enferrujado. Não conseguiram seu intento. Bateram palmas, chamaram, gritaram, mas não foram ouvidas, uma vez que a enorme casa que parecia ser a escola ficava bem ao fundo do pátio. Tentaram abrir o portão novamente. Não conseguiram da primeira vez. Após algum esforço, na segunda tentativa, as correntes enferrujadas cederam e elas conseguiram entrar no pátio.
Logo que entraram a apreensão tomou conta delas novamente, pois perceberam movimento de pessoas ao fundo. Não tiveram coragem de se aproximar de imediato. Ao fazer um reconhecimento superficial do local o olhar delas começou a perceber os movimentos estranhos das pessoas que se encontravam no parque.
De longe não conseguiam definir se eram crianças, adultos ou jovens. No entanto percebiam que eles não apresentavam muito equilíbrio no andar.
Quanto mais elas iam se aproximando para tomar informações mais percebiam as atitudes estranhas das pessoas que se encontravam no parque. Aquilo começou a preocupar a irmã mais velha que imediatamente pegou na mão da mais nova e começaram a caminhar mais para perto.
Neste momento um dos jovens que tinha um rosto esquisito e um defeito nos pés e nas mãos começou a se aproximar delas duas.
Foi aí que a irmã mais velha caiu em si e compreendeu tudo.
Como estava morrendo de medo, agarrou a mão da mais nova com mais força, deu meia volta e saíram as duas em disparada fazendo o caminho de volta para a saída do pátio com muitos dos jovens da “escola” - no seu correr desajeitado - em seus encalços. A irmã mais nova não compreendia o seu desespero, mas a acompanhava em sua correria desabalada.
O portão não abriu.
De sua guarita, o porteiro não entendia aquele desespero. As meninas que momentos antes pareciam tão calmas, agora corriam desabaladamente mostrando nos rostos um extremo pavor. No entanto, de repente ele entendeu tudo.
E era tarde demais.
Naquele triste começo de uma tarde quente e sufocante, seus olhos foram as únicas testemunhas daquele ato insano. Daquela atrocidade.
As meninas jaziam ensanguentadas na entrada do portão.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Como escrever crônicas

Características da crônica
a) Textos curtos construídos a partir da observação de fatos do cotidiano ou de experiências vividas pelo cronista.
b) Reflexões, questionamentos sobre a vida e a sociedade.
c) Linguagem simples e coloquial.
d) Literariedade (linguagem literária e uso de imagens)
e) O suporte da crônica são os Jornais e as revistas, podendo ser transformadas em livros.
f) Poucos personagens.
Na sala de aula, o professor que optar pelo gênero crônica deve levar o aluno a ser um bom obsevador do cotidiano, pois na crônica deve-se levar em conta o espaço ( o ambiente) e as atitudes das pessoas. Deve pedir que o aluno diga se há no texto literariedade. ou seja ,mostre na crônica lida as imagens ( as figuras de linguagens presentes no texto).
O professor deve mostrar também como os verbos se apresentam no gênero crônica. Mostrar que eles mudam o tempo de conjugação.
O professor deve também levar o aluno a perceber se no texto há referência a outros ou seja , se há intertextualidade. Perceber o tom da crônica:irônoico, humorístico etc.
O cronista deve criar expectativas no leitor para o enredo, para as características físicas e psicológicas dos personagens.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Outro lado do "Ser Mãe"

O OUTRO LADO DO “SER MÃE’’




Quando resolvi escrever este texto, na minha mente não apareciam ideias como as dos dois textos dos anos anteriores, onde eu enaltecia as mães como elas realmente merecem. Não que elas não mereçam hoje. Mas, devido ao momento que vivo, acompanhando uma filha nos seus momentos mais “felizes” que é o de ser mãe, resolvi escrever este texto mostrando o outro lado do “ser mãe” sem muita pieguice e idealismo, mas de uma maneira muito realista – “pé no chão mesmo”. Existe uma máxima que todo mundo conhece, muito antiga mesmo, que diz que “ser mãe é padecer no paraíso”, concordo em parte com ela, pois acho que ser mãe é sim padecer, porém, não só no paraíso, mas na sua casa e em todos os seus momentos de vida a partir do momento em que tem seu filho nos braços.
Ser mãe é parir seu filho em meio a muitas dores - na maioria dos casos - e logo após, fazê-lo sugar emseu seio que ainda nem tem leite e passar horas tentando alimentar uma criança faminta que até aquele momento nem sabia o que era um peito que dirá “sugar”.
Ser mãe é chegar em casa toda dolorida e ainda bastante inchada e no outro dia tentar entrar numa “cinta” que a primeira vista é impossível se caber nela, para tentar voltar a ter uma silhueta parecida com a que se tinha antes.
Ser mãe é nunca mais dormir uma noite inteira. É levantar várias vezes à noite para amamentar, caindo de sono, quando os filhos são bebês, e mesmo quando eles já são crescidos jovens e adolescentes - só dormir quando voltam pra casa sãos e salvos.
Ser mãe é tirar o alimento de sua própria boca para alimentar seu filho.
Ser mãe é chorar copiosamente ao deixá-lo pela primeira vez na escola e muitas vezes continuar chorando quando eles precisam deixar seu próprio lar para estudarem fora de casa.
Ser mãe é abarcar muitas profissões ao mesmo tempo. Ser mãe é ser psicóloga, médica, enfermeira, professora, muitas vezes advogada e juíza quando precisa sair na defesa de seus filhos.
Ser mãe é se sentir preterida e em segundo plano quando ele ou ela arranja seu primeiro namorado ou namorada.
Ser mãe é sofrer na alma e morrer um pouco quando seu filho se desvia do bom caminho porque não seguiu seus conselhos.
Ser mãe é ser paradoxal quando tem o poder de chorar e sorrir; permitir e negar; bater e alisar tudo ao mesmo tempo.
Ser mãe é esperar por um carinho e uma ternura que muitas vezes não vem.
Ser mãe é ter o maior dos sentimentos que é perdoar tudo que possa vir a sofrer de um filho. É defendê-los com unhas e dentes mesmo que muitas vezes não estejam certos.
Ser mãe é ter o dom de amar incondicionalmente e acima de qualquer coisa, pois amor de mãe é gratuito: não cobra, não espera gratidão.
Enfim, termino o texto com uma frase que já foi dita por alguém e que se não me engano é assim: “Filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-lo”?

Feliz dia das Mães

sexta-feira, 16 de abril de 2010


Partidas


Na vida, quantas partidas!

Em cada partida uma ferida
Que sangra...que dói
E que arrebenta

A alma solitária que fica.

Na vida tudo é tão fugaz,
Efêmero,
Passageiro.
A chegada e a partida
Andam juntas...
Unidas.

Destruindo um coração
Que jaz.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vidas secas






VIDAS SECAS



Não resta a menor dúvida de que “O sertanejo é antes de tudo um forte” como já dizia há muito tempo Euclides da Cunha em seu livro “Os sertões”, e isto, podemos perceber claramente, quando assistimos às notícias veiculadas pela televisão e lemos nos jornais locais. Em muitas partes desse Brasil tão grande, já são mais de quatro meses sem cair um pingo de chuva sequer, nas terras escaldantes dos nossos sertões.
Tem que ser muito forte mesmo para agüentar a sede de água. Mas é preciso ser mais forte ainda para suportar a sede de esperança e de dignidade que percebemos no olhar daqueles homens, mulheres e crianças que vemos todos os dias pela televisão. É de cortar o coração, vermos tanta gente com latas de água nas mãos, andando descalça e maltrapilha por muitos e muitos quilômetros, em busca de um pouco de água para matar a sede e muitas vezes, encontrando apenas restos de uma água barrenta no fundo de um poço ou de uma cacimba qualquer. É comovente sim, vermos aqueles olhos tristes e rostos molhados de lágrimas e percebermos que no fundo, aquele não é um choro de humilhação, de resignação ou de tristeza por não ter a água que mata a sede, mas sim, um choro e uma tristeza de quem aceita o seu destino; um pranto de explosão e de vergonha, por se saber abandonado e excluído pelos seus irmão; por que assim - o homem o quer.
E ele, o sol, está sempre ali, marcando presença. Poderoso, forte, indiferente e causticante. Por quanto tempo ainda ficaremos todos nós, assim como o sol, indiferentes a esses nossos irmãos habitantes deste país da exclusão; castigados pela miséria, pela fome e pela sede? Sempre que o desamor, a indiferença e a injustiça se fazem presentes, só o que resta no mundo é isso - a desolação, a fome, a miséria e a morte.
É preciso que a dignidade do sertanejo seja restaurada de alguma maneira. Não só a do sertanejo, mas de todo aquele marginalizado e excluído que tem sede e fome. Faz-se necessário que tomemos consciência de que alguma coisa tem que ser feita por esse povo tão sofrido. É preciso que as autoridades competentes não permitam que os trabalhos pela transposição das águas do Rio São Francisco sejam deixados de lado, mas que ao contrário, essa luta pelas águas do “Velho Chico” sejam prioridade, para melhorar a vida destas milhares de pessoas vencidas pela vida e em constante sede e fome de esperança.
Que a espera pelas águas que matam a sede seja breve, pois, como diz Paulo Freire:
“Mudar é difícil, mas, não é impossível”.

quarta-feira, 31 de março de 2010


Silêncio

O silêncio da noite
É cheio da tua ausência.
Onde estais? Onde te encontras?
Estais feliz ? Estais triste ?
Sei que estais a procura do amor.
Será ilusão?... Talvez!...Não sei.
Se o encontrares, me fala.
Saberei compreender a tua falta
E procurarei conviver com a solidão.

Livro "Retalhos de uma Vida"

O livro "Retalhos de uma Vida" encontra-se à venda na banca do Orlando - na praça da Bandeira- Campina Grande, ou entre em contato com a autora pelos endereços abaixo.
Valeriaxn@oi.com.br
leiaxavier.blogspot.com

terça-feira, 30 de março de 2010

Felicidade


Felicidade

Ela existe? Impossível ser feliz
Quando os olhos se abrem para
Ver tanta violência
Abandono
Indiferença!
Ser feliz? Como? Se ao nosso redor
Impera o ódio
O preconceito
A inveja!
Se a cada passo que damos
Crianças passam fome...
Jovens se matam uns aos outros...
Adultos se isolam e se omitem....
Onde procurar a felicidade?
Onde ela poderá estar?

Escrever é comprometer-se

A palavra texto significa tecido: O texto é um tecido composto de palavras que se reúnem em frases, períodos e parágrafos. Mas antes de assumir esta forma o texto começa na mente de quem vai escrevê-lo. Aí é que reside o grande problema da "redação": ensinam-se técnicas, macetes ,truques, fórmulas pré-fabricadas de textos mas não se ensina a pensar, por isso só se escreve sobre o que se conhece, antes de se aprender a escrever é preciso pensar pois escrever é comprometer-se intelectualmente, é assumir um compromisso com você mesmo diante do que pensa sobre o assunto, sobre aquilo em que acredita e sobre aquilo que forma o seu conjunto de valores e concepções de mundo. Antes de escrevermos algo , temos que pensar: no que escerver e para quem escrever.
Nos próximos dias darei algumas passos para se escrever alguns gêneros textuais.
Aguardem.

segunda-feira, 29 de março de 2010


Nostalgia


Mais um tarde de silêncio e nostalgia.
Saudade e solidão hoje,
São minhas eternas companhias...
Amigas constante
De todos os dias.

Mais uma tarde em que meu coração
Reclama.
Na vontade de ver-te
Ele se inflama...
Ele chora...se arrepia
E de saudade
Sucumbi e se angustia.

Para que literatura


Nesta época de tanta ciência e tecnologia, para que publicar textos literário? Quem por eles se interessaria? As perguntas sobre os grandes temas da vida humana se tecem nos poemas e nas obras de ficção. A literatura segundo Roland Barthes, não responde ás perguntas, não pretende atingir nenhuma verdade mas, abrir nossa mente para as inúmeras maneiras de vermos o mundo. Então para que literatura? Para aprendermos a conviver com valores e ideias de outros universos.Por que não Literatura? Por que não Poesia? A poesia é o que criamos de mais próximo do núcleo da realidade e do ser. A poesia nos dá o mundo em lágrimas e risos, em vida e morte, em angústia e esperança. Cada um de nós, enquanto se torna receptivo aos grandes temas da literatura : o amor e a morte,a liberdade e o destino, o absurdo e o racional, a beleza e o grotesco, a angústia e o medo etc , poderá encontrar em si o diálogo com as profundezas do ser e e o silêncio diante do mistério. A literatura nos dá o direito ao sonho e a garantia da realidade.

segunda-feira, 22 de março de 2010


SAUDADE

Valéria Xavier


Saudade é poder senti-la antes mesmo
Dela chegar...
Saudade é a dor reprimida no peito
Como a chuva que teima em a terra
Seca não molhar.
É o pranto contido na garganta quando
Se entra num quarto vazio.
Saudade é acordar sucumbida de melancolia
E esperar inutilmente pelo som de uma voz querida
E não ouvir sequer um pio...
É esperar o toque do telefone num domingo à
Tarde, e o toque não vem...
É olhar de relance aquela foto...
É sentir aquele espaço vazio à mesa...
É você se dar conta de que
Mais um dia se passou, e que outro dia,
Vem.