sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Clara conta um conto



CLARA CONTA UM CONTO



U
ltimamente, uma das coisas de que ela mais gostava era conversar com sua neta Clara. Ela era uma criança com bastante presença de espírito, rápida em seu raciocínio, ativa, bem-humorada, perspicaz, observadora e sempre tinha uma pergunta ou uma resposta na ponta da língua, o que deixava a todos que conviviam com ela bastante felizes, pois sabiam que ela seria uma pessoa que com certeza teria um futuro brilhante.
Outro dia, sua mãe perguntou se ela poderia dormir na casa dos avós pois ela e o seu marido precisavam sair para um compromisso inadiável. Os avós responderam que sim e que adorariam que Clara dormisse com eles não só naquela como em todas as noites que se fizessem necessárias.
Naquela noite Clara chegou carregando seu travesseiro, seu brinquedo preferido, sua última mamadeira do dia, ou melhor, da noite e eles a receberam com todo carinho. Despediu-se de sua mãe e passou para o quarto onde ficou com os avós assistindo à televisão. Alguns minutos depois seu avô dirigiu-se à cozinha onde consertava um aparelho doméstico qualquer e sua avó ficou com ela deitada na rede. Na televisão passava um capítulo da novela e naquele momento a cena apresentada era a de um casal beijando-se apaixonadamente. A avó percebera que Clara estava como que extasiada olhando aquele beijo.
Então, para quebrar aquele clima perguntou: “Clara, teu pai beija tua mãe”? Ah! Deus! pra que fora fazer aquela pergunta!
Clara virou-se para ela com as sobrancelhas franzidas como se estivesse lembrando alguma coisa e pensativamente, com o dedinho no queixo respondeu assim: “Sabe vovó que eu agora tô me lembrando de uma coisa”?
Ai...ai...ai. Pensou a avó consigo mesma, aí vem coisa.
E ela continuou: “Uma vez eu ouvi do meu quarto uns barulhos estranhos sabe?”
A avó acomodou-se melhor na rede esperando o que viria depois... É agora. Pensou com seus botões.
E aí ela continuou contando com muitos gestos como se fosse uma triz ensaiando uma peça: “ Eu olhei para baixo da cama, olhei para cima, olhei para um lado, olhei para o outro, mas não era nada vovó.” A avó respirou fundo. Mas aí ela continuou.
“Aí me levantei da cama e fui “no quarto de mamãe”.
A essa altura do campeonato a avó já estava tensa esperando pelo final da história. Então a menina parou e olhou a avó de uma maneira que ela quase morre de rir - o que fez com que o seu avô viesse correndo saber o motivo de sua gargalhada - e disse bem faceira:
“Era papai beijando ela.”