segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um lugar ao sol


UM LUGAR AO SOL



S
ão cinco e meia de uma tarde de inverno. 16 de Junho precisamente. Aqui da varanda do apartamento de uma grande amiga, avistando o mar bem a minha frente, sentindo a carícia do vento marítimo tocando minha pele e vendo o sol se escondendo por detrás dos imensos coqueiros permitindo que a lua dê o ar de sua graça, fico a pensar no tamanho de minha felicidade, do meu orgulho e no sentimento maior que é de ter finalmente cumprido o meu dever perante mais uma filha.
Foi uma semana de festas. Quanta alegria e quanto orgulho no olhar de cada pai e cada mãe ali presentes em todos aqueles eventos relativos à formatura. Aposição da placa. Culto Evangélico. Missa em Ação de graças. Colação de Grau. O grande Baile. Ufa!!! Quanta euforia e animação! Todos querendo encontrar o seu lugar ao sol.
Na mente de cada um daqueles pais presentes devia estar passando um filme onde se via todos os anos que muitos deles tiveram de passar longe de seus filhos. Sentindo a falta deles à mesa, sentido a falta de seu olhar de sua voz, de seu carinho, enfim, de sua presença. Este filme que certamente passava na mente de cada um mostrava talvez o sacrifício e as renúncias que muitos tiveram que fazer para vê-los finalmente vestidos com aquela beca preta amarrada por um cinto largo e verde e levando à mão aquele canudo que era um símbolo de que dias muito melhores estavam finalmente por vir.
Todos juntos ali, naquele espaço tão bem preparado para eles. Tão felizes. Tantos sonhos e tanto estudo compartilhados. Tantas noites sem dormir para dar conta de tantas provas, tantos seminários. Mas venceram. Muitos tão jovens ainda e com tamanha responsabilidade por sobre seus ombros.
Sabem que a jornada que têm pela frente não vai ser fácil, mas durante esses seis anos que viveram juntos mostraram que têm coragem, perseverança e determinação para vencer todos os obstáculos que surgirem pela frente. A alegria, os abraços, os olhares de saudades trocados entre eles, os gritos de vitória, os braços erguidos, o orgulho, as lágrimas de felicidade que rolavam pelos seus rostos tudo nos revelava que a missão a que se destinaram finalmente fora cumprida. O lugar ao sol de cada um daqueles quarenta e cinco concluintes estava finalmente garantido.
Não resta a menor dúvida de que formar um filho é a maior herança que um pai ou uma mãe pode deixar. A herança do conhecimento, do saber, da educação é a herança que dá poder de libertação. É a herança que nada nem ninguém poderá jamais tirar deles. E esta é a herança que deixamos- eu e meu marido - para nossas três filhas. Mais uma que finalmente alçou asas e conseguiu o seu objetivo maior. Conseguiu voar o mais alto que pode. Conseguiu finalmente, após muita luta, muito estudo e muita determinação soltar o grito de alegria guardado no peito e garantir também o seu lugar ao sol.
Ela escolheu a profissão mais nobre e mais antiga do mundo. A medicina, e sabe, tem consciência de que esta é apenas o fim de uma etapa de sua vida, por que na profissão que abraçou jamais vai se permitir parar de estudar, ao contrário, a sua vida de médica será uma vida de eterno aprendizado mas temos a certeza de que com a sua perseverança todos os percalços e adversidades que por ventura surgirem em sua vida ela saberá enfrentá-los e vencê-los corajosamente.



Valéria Vanda Xavier Nunes.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

exemplo típico de variação línguística


Aprenda a dar uma má notícia


- Alô, Sô Carlos? Aqui é o Uóshito, casêro do sítio.

- Pois não, Seu Washington. Que posso fazer pelo senhor? Houve algum problema?

- Ah, eu só tô ligano para visá pro sinhô qui o seu papagai morreu.

- Meu papagaio? Aquele que ganhou o concurso?

- Êle mermo.

- Puxa! Que desgraça! Gastei uma pequena fortuna com aquele bicho! Mas morreu de
que?

- Dicumê carne istragada.

- Carne estragada? Quem fez essa maldade? Quem deu carne para ele?

- Ninguém. Ele cumeu a carne dum dos cavalos morto.

- Cavalo morto? Que cavalo morto, seu Washington?

- Aquele puro-sangue qui o sinhô tinha! Eles morrero de tanto puxá carroça
dágua!

- Tá louco? Que carroça d'água?

- Prapagá o incêndio!

- Mas que incêndio, meu Deus?

- Na sua casa, uma vela caiu, aí pegô fogo nascurtina!

- Caramba, mas aí tem luz elétrica! Que vela era essa?

- Do velório!

- De quem?

- Da sua mãe! Ela apareceu aqui sem avisá e eu dei um tiro nela pensando que era
ladrão!

- Meu Deus, que tragédia! - e o homem começa a chorar.

- Peraí sô Carlos, o sinhô num vai chorá pur causa dum papagai, vai?







quinta-feira, 28 de abril de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Clara conta um conto



CLARA CONTA UM CONTO



U
ltimamente, uma das coisas de que ela mais gostava era conversar com sua neta Clara. Ela era uma criança com bastante presença de espírito, rápida em seu raciocínio, ativa, bem-humorada, perspicaz, observadora e sempre tinha uma pergunta ou uma resposta na ponta da língua, o que deixava a todos que conviviam com ela bastante felizes, pois sabiam que ela seria uma pessoa que com certeza teria um futuro brilhante.
Outro dia, sua mãe perguntou se ela poderia dormir na casa dos avós pois ela e o seu marido precisavam sair para um compromisso inadiável. Os avós responderam que sim e que adorariam que Clara dormisse com eles não só naquela como em todas as noites que se fizessem necessárias.
Naquela noite Clara chegou carregando seu travesseiro, seu brinquedo preferido, sua última mamadeira do dia, ou melhor, da noite e eles a receberam com todo carinho. Despediu-se de sua mãe e passou para o quarto onde ficou com os avós assistindo à televisão. Alguns minutos depois seu avô dirigiu-se à cozinha onde consertava um aparelho doméstico qualquer e sua avó ficou com ela deitada na rede. Na televisão passava um capítulo da novela e naquele momento a cena apresentada era a de um casal beijando-se apaixonadamente. A avó percebera que Clara estava como que extasiada olhando aquele beijo.
Então, para quebrar aquele clima perguntou: “Clara, teu pai beija tua mãe”? Ah! Deus! pra que fora fazer aquela pergunta!
Clara virou-se para ela com as sobrancelhas franzidas como se estivesse lembrando alguma coisa e pensativamente, com o dedinho no queixo respondeu assim: “Sabe vovó que eu agora tô me lembrando de uma coisa”?
Ai...ai...ai. Pensou a avó consigo mesma, aí vem coisa.
E ela continuou: “Uma vez eu ouvi do meu quarto uns barulhos estranhos sabe?”
A avó acomodou-se melhor na rede esperando o que viria depois... É agora. Pensou com seus botões.
E aí ela continuou contando com muitos gestos como se fosse uma triz ensaiando uma peça: “ Eu olhei para baixo da cama, olhei para cima, olhei para um lado, olhei para o outro, mas não era nada vovó.” A avó respirou fundo. Mas aí ela continuou.
“Aí me levantei da cama e fui “no quarto de mamãe”.
A essa altura do campeonato a avó já estava tensa esperando pelo final da história. Então a menina parou e olhou a avó de uma maneira que ela quase morre de rir - o que fez com que o seu avô viesse correndo saber o motivo de sua gargalhada - e disse bem faceira:
“Era papai beijando ela.”